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10/07/11



A cidade amanheceu cheia de luz e com cheiro a caldo verde e a passeios de mãos dada. 
As paragens de autocarro são locais tranquilos quando amanhece a cidade. 
Os bares a fechar, os cafés a abrir, o cheiro a bolos e a rua lavada. 
O cheiro do rio que acompanha a cidade que tem a cor doce de quem nunca se amou nem nunca se tinha amado antes… 
e os dois de mãos dadas esperam um autocarro para lado nenhum, 
e esperam que o táxi não chegue ou apenas esperam, sem motivo aparente, que a vida se esqueça que os dois existem e os deixe ficar ali, apenas a permanecer.

A cidade amanheceu cheia de luz e cheia dos dois, pela primeira vez.

Há cheiro a croissants e torradas com manteiga no ar. 
Há o sabor amargo na boca de um sonho que não pode ser, nem pode acabar.
Há um não ter de ser ou de parecer. 
Há uma vontade louca de ficar, uma musica clássica no ar… 

...e fechado o circulo o carro pára onde há muito tempo se cruzaram mas nunca se encontraram. 
O carro pára e a vida continua. 
A manhã deixou de amanhecer, tu deixaste de ser meu… eu deixei de ser tua.

Agora há uma paragem de autocarro silenciosa à espera que os dois ali voltem; um caldo verde que já não existe, á espera de ser comido; uma musica à espera de ser dançada; uma pedra da rua à espera de ser pisada…
E talvez Lisboa nunca mais amanheça enquanto estes não se voltarem a encontrar, no desencontro de uma noite simples, ou na simplicidade de uma noite desencontrada!

Sei que vou perder-te quando a noite chegar
E sei que por mais que ame, nunca mais eu vou Amar.