Translate

27/02/13

Sexta feira foi um poema



Acordei e as asas do anjo já estavam na minha direcção
Olhei à volta porque eu ainda não sabia
e inspirei o que pensava que ía ser o dia
E aguardei a pensar, ele não vem, não!

Mas o anjo viajava pela estrada, longamente
Na tarde crua que trazia chuva e vento
E eu a carne, o vinho, o queijo, o momento
E ele as penas, a vontade e uma semente

Trazia um livro, uma pedra e tanto ardor
Abri-lhe a porta já a tarde ía escura, e pensei
Como é que um anjo pode ter tanta ternura, e ousei
Despiu-me as roupas como quem veste o Amor

Adormeci com as asas do anjo enleadas no meu ventre
Depois do sangue, do suor, do sal, do mar
Depois de ser, de ter, sentir, rasgar, amar
Adormecemos um no outro, lado a lado, docemente

Sexta feira é um poema
Sábado ressureição
Domingo culpa suprema
E o resto da semana
Onde caminha a verdade
É uma cama onde durmo
onde acordo e de repente
É um leito de saudade!


19/02/13

Tanto


Tanta areia , tanto mar
Tanto vento no olhar
Tanta onda desabrida
Tanta ansia de chegar

Tanta água, tanta chuva
Tanta areia no meu peito
Tanto sonho inacabado
Tanto coração desfeito

Tanto céu e tanta terra
Tanta terra por lavrar
Tanta gaivota no ar
Tanta ferida por sarar

Tanta alma, tanto sangue
Tanto amor neste meu mar
Tanta dor neste meu peito
Tanta forma de chorar



08/02/13

Serafim

Tanta coisa dentro, tanta hora leve, tanta solidão desenfreada
Tanta gente forte, tanta forma breve, de te amar assim desalinhada.
É a preto e branco e não é a cores, que me reconheço, junto a mim
nessa hora quente, que nunca mereço, onde o tempo passa, Serafim...

Tanto braço solto, tanta mão macia, dentro da vontade de chegar
Onde a letra morta, cabe na saudade, de não ser nunca hoje, o abraçar.
Quando a tecla seca, me lembra nos dedos, que o dia vai já chegar ao fim
Eu me engano e tusso, para não chorar, pelo meu amor, Serafim...

Num certo moinho, onde a certa mão, a minha cintura enleia...
E meus negros cabelos, molham o teu corpo, enquanto me chamas, Sereia 
Amas como se o amanhã não houvesse, e o ontem chegasse, enfim
Amo como posso, com tudo o que tenho, o meu doce irmão, Serafim...

O céu e o mar nunca se encontraram, como nesta vida, e então
Anjo e Diabo, olham-se nos olhos, beijam-se na boca, perdão.
Amanhã será o derradeiro dia, do caminho e da decisão
E toda a palavra, que não vai ser dita, tem o peso de uma canção
e Diabo e Anjo amam-se de novo, dentro desta Eu, que é - mim
e ajoelhado, me prometes tudo, anjo adorado, Serafim...

O futuro incerto, o passado fresco, a faca que tudo cortou
Serve agora o nobre pretexto de quem afinal, nunca amou
Fixas o meu ventre, na esperança da vida e descansas dentro de mim
E na incerteza de uma vida ou não, morro-te na mão, Serafim.