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17/09/13

As palavras todas

Eu quero as tuas palavras todas.
Não deixes nada por dizer ou por fazer
Nenhum sítio onde ir, nem nada por acontecer.

Quero as tuas palavras todas logo pela manhã

Ainda na cama quente, a respirar devagar
Recorda-las docemente, quero palavras p'ra lembrar.

Eu quero todas as palavras que tens para me dizer.

Para me deitar com elas, nesta cama sumarenta
Tenta dizê-las baixinho, meu coração aguenta.

Diz-me coisas, novidades

Diz-me mentiras, verdades
Diz as cores todas que sabes
E o alfabeto ao contrário.

Fala de Reis e de gentes

E do que te faz feliz
Fala-me do mundo inteiro
Diz coisas, quando sorris

Diz-me essas palavras todas

Não te cales, não te acanhes
Não tenhas medo e sente.
Chora-as baixinho comigo
Diz-mas todas docemente.

Deita fora essas palavras

Quero-as todas, só para mim
Para quando te calares
Eu saber, seguramente
Que é o fim...



15/09/13

O peso do Tempo

O peso do tempo só se sente quando um novo tempo surge
e de repente, o tempo urge e de repente o amor é breve
e porque é cego, o amor, não entende
que é de dor que se alimenta e escorrega
como quem sobe uma serra com vontade de a descer.

E é assim que o novo tempo ama o gasto amor, que vendado não percebe
que o amado não é mais do que uma pena, que vista do lado de cá
parece algo bom que surge, algo lento, forte e profundo
sem saber que do outro lado, o que ele vê é um mundo
que pode ter sido belo, um dia, num tempo, em que há muito tempo
os relógios davam horas ao amor que se fazia.

Mas hoje tudo mudou
O que antes era jovem anoitece devagar,
amortece cada queda com a ternura de um olhar
sabendo que cada beijo não é perdido, mas ganho
entendendo no silêncio do recente novo amor,a leveza tão pesada
da subtil despedida ,que calada castra rente aquele que cansado, sente
o amor, que como o tempo, nos corre entre os dedos longos
nos corre na fantasia.

Rasga veias, abre crateras, formando um quadro de escombros
Onde o velho amor se deita sabendo que vai morrer.
Ninguém entende porque sorri e porque fica parado
num quadro quente e quieto onde o branco fica preto
e onde o tempo irrequieto não abranda nem perdoa.

Porque se deixa trespassar por esse novo amor inteiro
que não passa de uma brisa ou de um tiro de morteiro?
Que não abre o compromisso nem sequer lhe fecha a porta,
fazendo do cheiro a cama
a cama que nos suporta.

Porque é que não se desvia da dor que sabe que vem?
Porque é que avança tão firme junto à berma do penhasco?
E porque é que sobe à árvore sabendo que vai cair?

É que há uma coisa estranha que é mais forte do que o medo,
é uma esperança tamanha e uma dúvida do tempo,
um baque, que parece um batimento
porque o gasto amor já sabe, que pior que morrer por desprezo ou desamor
é penar eternamente pelo que não se tentou
é morrer em silêncio inerte, de arrependimento
E é melhor morrer de amor, do que quem nunca amou.

Venha o tempo venha o espaço!
Venha a noite acusar-me de ser vã!
Vou amar eternamente...
Nem que seja só até amanhã!















03/09/13

Celebrar o amor
é Amar

Quando um anjo tira tempo
para te reconhecer
para te despir e depois
para te lamber
Abraça-o.

Quando um anjo vem a casa sem avisar
Beija-o e deixa-o sentir
faz com que te percorra inteira
E no final abre a porta
E deixa-o partir

Quando um anjo te ama
Ele vai voltar
Sussurra palavras ao vento
E lambe... Lambe o ar.

Celebrar o amor
é Amar




Gota a gota

É ás gotas que me sustento
gota a gota me alimento
A sede não esgota, a palavra não vem
A faca não corta, a saia não roda
Não estando cá tu
Não está cá ninguém

E gota a gota mato a minha sede
Como um pulsar lento, do coração que não morre
Como olhar de frente, um olhar que não sobe
E a sede não passa, não abranda a fome
A porta não abre, a nódoa não sai
Não há um caminho por onde se vai

Vai vir a saudade, vai passar o verão
Vai gelar o dia no meu coração
Vai faltar a água, p'ra a gota cair
Vou fechar a boca
Vais parar de vir

É então às gotas que eu me sustento
Ás saudades lentas, que vêm e vão
Ao cheiro dos olhos, ao sabor da mão
À memória leve de ser tua, um dia
Gota a gota fresca, na boca sadia

E agora seca do que te dizer
Fecho os olhos d' água, p'ra gota morrer
Deixo de ter gotas para me entreter
Respeito os traços que fazes no chão
Escolhes o caminho fácil do esquecer
Toma, leva e espreme o meu coração

gota a gota, fá-lo padecer...





Ouvindo. Ouvir.