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31/01/11

Poema naif

À procura de melhores dias
Anda a rola e a cotovia
De inverno farta a chuva
E pouco se vê do dia

À procura de melhores dias
Anda o vento sempre a girar
Roda p’ra cima e p’ra baixo
Roda sempre, sem parar

À procura de melhores dias
Ando eu e o meu amor
Uma ilha verde e calma
Onde não falte o calor

Os dias de ontem e hoje
Foram de chuva e de vento
Não vi rola ou cotovia
Que me trouxessem bom tempo

Sinto os dias de amanhã
A chegarem devagar
Vejo sol envergonhado
Vejo a vida a querer vingar

Á procura de melhores dias
Andas tu e ando eu
Do que hoje é uma perda
Amanhã algo nasceu


Hoje não chove

Hoje não chove, mas é como se chovesse
Dentro de mim a água do céu perdura
As águas que tenho dentro
Não são sequer de ventura

São tristes as águas que tenho
Porque hoje também não chove
Eu bem danço, bem me empenho
Mas a chuva não se comove

Já fez vento e trovoada
Eu de medo, já tremi
Mas sou mulher acabada
E por ti assim vivi

Hoje não chove
E isso faz doer mais
Hoje não se passa nada
Não há um barco no cais

Os barcos foram para o mar
(hoje não chove)
Eu continuo aqui sem estar
(hoje não chove)
Tu não vens se eu te chamar
(hoje não chove)
Ninguem hoje pode amar
(hoje não chove)

Eu não paro de chorar e hoje não chove
Eu danço, danço, danço mas a chuva não se comove.




29/01/11

O que eu sinto por ti tem muitas coisas dentro. Tem carrinhos de esferas antigos e tem bonecas de trapo. Tem cartas, muitas cartas trocadas no tempo em que ainda existiam cartas de amor, quando esse ainda tinha uma breve existência. Tem carrinhos de linhas que se usavam para remendar a roupa que rompia por estar demasiado gasta. Tem palavras, palavras que se tornaram num vago som distante, palavras meio desfocadas, como quem acabou de comprar uma máquina fotográfica que ainda não sabe usar. O que sintopor ti tem o peso do tempo dentro, um peso que quanto mais tempo passa mais leve fica. Tem o amor mentolado da adolescência, o amor puro de quem ainda não percebeu que dói e que demora. Um amor simples a saber a arroz branco. Tem os passeios ao fim da tarde em ruas que já não sei o nome. Ruas que já só sobrevivem na minha imaginação. Ruas de cidade deserta ao fim de semana, ruas de aldeia que já não existe a não ser no imaginário de algumas crianças que cresceram duramente devagar. Tem os vidros embaciados de um carro em frente ao mar. Tem horas de espera elásticas. Tem horas de esperas sem fim, eu à espera de ti e tu à espera de mim. Tem o tempo perdido de quem espera calado, sem marcar encontro. Tem a ilha de sangue num lençol branco a cheirar a lavado e o espanto pela descoberta de mim. Tem calor de lareira, tem frio de neve acabada de cair. Tem o primeiro desgosto que se repete em todos os que se seguiram. Tem as histórias de um passado que não sei se aconteceu, se sonhei. Tem os amores que vivi antes de ti, e todos os que pensei viver a seguir. Tem as praias todas porque passei, as marés baixas e as marés altas, tem todas as ondas que se formaram e que não foram apanhadas, e, tem as marés vivas de Setembro que vêm até aqui e me molham os pés. Tem as mulheres que foram tuas e agora me povoam minúsculas num desconcerto de muitas vozes em teu redor a lembrar uma culpa antiga que eu nunca conheci. Tem estradas e casas e cheiros, um ribeiro ali ao fundo, um cavalo. Casinhas de aldeia e almoços em familia, tem uma familia que não é a minha mas que por breves instantes me alimentou a alma. Tem uma janela a dar para os telhados, uma noite de fogo de artifício, uma festa popular há muitos anos num castelo. Quando os castelos já nem existiam. Tem sono e fome e sede, uma capela perdida num monte, um campo de futebol de terra, vazio. E tem o silêncio e o som, tem árvores e plantas, a lua a nascer num céu ainda claro e a dor de ser eu, agora, aqui, com tanta coisa dentro…




24/01/11

Esquecer
Esquecer como se nunca tivesse acontecido
Deixar as dores doer à outra gente
Esquecer a noite que não devia ter perdido

Fica
Grito eu a mim própria
Num desejo vão de não ter de partir
Vai
Grita a vida má e sóbria
Vai que não tens tempo para sorrir

Chorar não choro
Esquecer é o importante
Esquecer a noite, os dias, os teus olhos
Esquecer aquele que quero lembrar tanto

Partir
De costas voltadas ao sorrir
Partir de lágrima na mão, coração triste
Deixar p’ra trás o que podia ter sido
Talvez não fosse nada, meu amor
Talvez eu nunca te tenha conhecido






Amar











Um corpo
Fechado
Sozinho
Esmagado
Eu
Sem portas
Sem risos
Sem nada
Chegas
Arrasas
Penetras
E esmagas
Eu
Sorrio
Há dias
Há esperanças
Nós
Sozinhos
O mundo
O mar
Uma cama
Um fruto
Um filho
amar

15/01/11

Desejo












Desejo uma morte calma
Desejo uma outra vida
Desejo ser querida de amigos
Querida para ti
E desejo não estar perdida

Desejo uma noite longa
Desejo um sorriso bom
Um olhar teu apenas
Desejo aninhar-me sozinha
Passear no meu infinito
Desejo-te aqui, agora
E desejo dar um grito

Um grito em silencio
Que termine com a solidão
Um grito forte e seguro
E desejo, ás vezes, que me des a mão

Desejo olhar-me ao espelho
E ver algo de melhor
E tenho um desejo tamanho
De te conhecer de cor
De morder a tua alma
De lamber o teu amor
De beijar a tua boca
De curar a minha dor

Desejo

14/01/11

Eles não amam como nós





 Eles não amam como nós
A vaguear sem rumo certo
Eles vêm o céu de longe
Nós sentimos o céu tão perto

Eles não amam como nós
Com a total entrega da vida
A esse a que chamamos nosso
E que ainda de nós duvida

Eles não amam como nós
Com todos os poros do corpo
Com o pensamento preso
Com saudade dolorida
Com nó cego na garganta
De quem só sofre na vida

Eles não amam como nós
Não amam não
Com a alma de uma santa
E o coração de um leão

Uma mulher quando ama
Ama com fé e verdade
Pode passar a vida toda sem o ver
Mas fica fiel à saudade
Mesmo que saiba que é certo
Que nunca mais o vai ter

Para amar puramente
Não é preciso saber ou aprender
É preciso é ser mulher!

Sensação de perda



E agora tudo me parece tão vago
Tão sem esperança que aconteça
E agora até parece que trago
Uma mão cheia de flores na cabeça

Está tudo de mim tão distante
Falo de mim de nós dois
Tenho mil problemas de instante
Não te penso, talvez, talvez depois

Afinal já descobri que o mundo
Não gira só e sempre à tua volta
Parece-me até que lá no fundo
Já me vejo a voar, que já estou solta

As palavras que um dia me disseste
Em nada mudaram o que veio a acontecer
São palavras, simplesmente que me deste
Frases feitas, para me fazer doer

Amanhã talvez te pense um pouco mais
Hoje não…
Hoje tenho mais que fazer.


 





Eu podia esquecer-te nos dias
E viver hora a hora, uma de cada vez
Mas ainda não consigo

Eu podia poisar as mãos nestas memórias
E com as mesmas mãos dizer-lhes adeus
Podia nunca mais chorar
Nunca mais amar, nunca mais morrer

Tirar as mãos dos teus bolsos
Olhar-me ao espelho e ir viver
Mas ainda não consigo

Tenho demasiadas memórias
Nas minhas memórias
E muitos cadeados nas minhas correntes

Eu podia apenas esquecer-te
Deixar de recordar tudo o que não passou
Deixar repousar quem nunca repousou
Porque tentar amar quem nunca amou
Ou tentar roubar quem me roubou
Não vale a pena

Foste um que eu não conheci…
Foste um dia que passou!


O teu amor















Sempre pensei que podia ser feliz
Como um cavalo uma pomba ou uma flor
Sempre pensei que ser pessoa era melhor
Até um dia dar de caras com o amor

Foi muito lindo ao princípio foi bonito
E fui lutando para ter o que queria
Ai se eu soubesse, amor, se eu soubesse
Tudo o que fiz, não sei se hoje faria

Amor chegaste e sentaste-te a meu lado
E prometeste tudo o que querias dar
Mas deste tudo o que não tinhas prometido
Amor, deste-me ódio, deste raiva e deste dor

E deste-me tudo tão depressa, meu amor
Se calhar foi por isso que te esqueceste
De me dar o que tinhas prometido
De me dar, meu amor, o teu amor!