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23/08/11

Futuro incerto

Uma semana depois de nada
aquela madrugada foi tudo.

O caminho ia-se fazendo
à medida que os pés avançavam
e cada passo punha à prova
a incerteza de não saberem bem para onde iam
A linguagem fazia-se entre a copa das árvores
e o chão onde a folha era pisada

Os taxis deixaram de ser precisos,
assim como os autocarros, o metro e todos os transportes
Porque o espaço que separa,
passou a ser uma coisa sem grande significado
O espaço deixou de ser um lugar
para ser em todo o lado.

Ela nunca mais sorriu e
nunca mais chorou da mesma maneira
E ela nunca mais viveu semelhante alvorada
Ele não sabia amar, e, no entanto não sabia ele fazer mais nada
e todos os dias, apesar de não saberem,
ele foi amado, ela foi amada.


Cruzaram-se muito antes de se conhecerem
amaram-se até muito depois de se largar
A vida juntou-se ao tempo e foi cruel

Viveram longe muitas e muitas noites,
mas nunca mais encontraram aquela madrugada

Viram uns barcos à deriva sem encontrar o norte
Viram gaivotas loucas e esfomeadas, largadas à sorte
Viram crianças e luas, viram barcos e comboios a partir
e foram os dois juntos tudo onde n se podia ir...

uma semana depois da madrugada
um mês depois de duas noites sem dormir
um ano depois de tudo o que aconteceu

ninguém sabe como estes dois vão viver juntos 
sem nunca mais se encontrar
ninguém sabe se se amaram realmente
se foi só vontade de Amar

mas nos passos incertos que os separa e aproxima
nos dias que anoitece sem razão
quando virem uma sombra fugidia
são eles... são eles que se encontram e dão as mãos.




13/08/11

Discussões com o divino



Deus falou comigo hoje
Nunca me tinha antes dado atenção
E hoje veio falar comigo, e disse
- Não venho como teu irmão!

Veio dizer-me o que eu já sabia
Que nunca esteve lá para mim.
Veio dizer-me que a minha vida
Não vai terminar fácil assim

Pus-me em bicos de pés para me fazer maior
Cerrei os punhos para não me desfazer
Olhei nos olhos aquele que me pôs cá
E lá no fundo senti-o tremer

Que queres tu? perguntei devagar
Fixando a sombra que me quer ver mal
Vieste aqui para ver-me penar
Podes voltar para o teu lamaçal

Então Deus falou comigo e disse
Se Eu sou Tu e Tu és Eu…
Se tudo o que existe, vem de nós
Porque me culpas dessa vida triste
Porque me acusas, sem saber se existe
A escolha tua ou a vontade minha
Que muda tudo e que tudo altera
Que faz nascer sempre a primavera
Que faz morrer todo o Homem bom

Porque me dizes que não faço nada
Quando quem caminha por essa estrada
És tu e és quem decide, se quer a noite ou a alvorada
Se quer viver em pé ou deitada
Se quer amar ou ser amada
E tu que escolhes arrogante
Sempre o caminho errante
Queixas-te a quem te ouvir
Sem pensar que também Deus
Só abre a porta a quem quer sair!



(premonições ou medos??)


Tu foste a saudade que vi partir
Num dia de chuva num dia qualquer
Tu foste a mentira que me faz sorrir
Por um dia fui tua e fui mulher

Tu és a tristeza que em mim ficou
O dia de chuva que não vê o sol
O dia mais triste a agua mais fria
A boca mais quente que já conheci
E a mais selvagem que já provei

O corpo mais firme que tive no meu
Também dos melhores que já abracei
Uma mão amiga que me apoiou
Um sorriso lindo que me aconteceu

Mas vi-te partir num dia de chuva
E vi-me ficar para trás a chorar
Por não te ter visto mais na minha rua
Por na tua vida não ter lugar
E sei que não vou pedir nada
E sei que nada vais dar

Mas sei que não devo estar triste meu bom amigo
Sei bem que é assim que tem de ser
E tenho que guardar esta pena
De te ter perdido por te conhecer

Tu foste a saudade que ficou em mim
O belo momento que não vou esquecer
Tu foste a verdade que me pôs assim
Entraste inteiro dentro de mim
Colaste os pedaços do meu coração
Chamaste-me amiga, chamaste-me irmão
Chamei-te poema, dor e paixão

Descansei no teu corpo
Naveguei-te na alma
E ao entrares em mim trouxeste-me a calma
E deste-me esperança de voltar a tentar
Sem doer, sem pedir, sem magoar
Sei bem que não fui amada
Talvez e apenas um desejo no mar
De qualquer maneira obrigada
Ao meu estranho modo toda a vida eu vou-te amar

E nunca se amará ninguém melhor
Eu sem nunca saber o que tu sentes
E sequer perguntar á tua boca calada
Sem que eu do meu nunca te diga nada!





08/08/11

Vidas Perdidas - por Miguel Esteves Cardoso (o Grande)


sexta feira13 



Foi deus que se enganou e abriu uma porta
que afinal era uma janela, que afinal não era nada
Foi a deusa que brincou, com o seu sentido de humor
Que pegou naquela  letra e a transformou
Um doce rumor num amor, que depois se desligou

Tinha moedas de algodão e cafés de chocolate
Tinha lençóis de flanela, que afinal eram de linho
E caraçóis em cabelos, todos feitos de carinho
Tinha mãos que não se davam, tinha lagos de suor
A saber a lábrimas, a saber a tudo menos a amor
E no entanto

Havia memórias futuras que não serviam para nada
porque o passado de um, era o futuro do outro
E uma história p’ra trás com um vazio quase rente
Das   vidas que se cruzam mas que andam sempre em frente
e lábios doces e duros que nunca disseram tudo
Porque a palavra nunca podia ser dita
Nem podia ser escrita, nem pensada mas também não podia ser rasgada
Foi deus que se enganou, foi a deusa que brincou
Foi a saudade que fica num corpo que parecem dois
Foi verdade, foi mentira, foi o que não pode ser
Como a alegria que vem antes do acto e da dor
Da palavra esmigalhada que só podia ser Amor

02/08/11


Ver as coisas de modo diferente daquilo que vejo, ou antevejo!
Ás vezes gostava que não fosse assim.
Adormecer simplesmente quando chegasse à cama e não estar a visualizar todos os contornos das pessoas que me são queridas.
Não saber mais nada a não ser o que aprendi, o que me foi ensinado e o presente.
Não saber mais nada…
Não querer mais nada…
Ás vezes gostava de ser humana e preocupar-me com coisas pequeninas.
Gostava de não conhecer anjos do céu... não conhecer o céu
Não conhecer os demónios, nem o inferno. Gostava de ver só aquilo que se vê, e não ter de estar constantemente a disfarçar e lutar com o que sinto, em mim.
Gostava também de ter nascido sem asas… e de não sabe voar.
Não ter a cabeça tão cheia de estrelas e de mar.
Gostava de não ter de guardar todas as conchas e todas as pedras que já foram eu e que me pertencem.

As vezes gostava de ser normal, de ser humana. De não ouvir…
Gostava de não saber avaliar os sinais… não os ver sequer.
Gostava de ter só amigos simples.
Gostava de não sentir falta do Grande Amor que me está destinado, ou então de cada vez que nos cruzássemos (eu e o grande Amor) não estivéssemos sempre tão distantemente entrelaçados…

Gostava de não ter certezas.
Ou então gostava de as poder utilizar…
De vez em quando gostava de ser abraçada com ternura.
Ter um Amigo perto todos os dias. Partilhar…

Gostava de não ser só carne… ou só intelecto.
Gostava de ser apreciada como me aprecio.
Vista como eu me vejo.
Gostava que o amor estivesse ao meu alcance cada vez que me deito… contigo.
Ou então gostava que isso não me fizesse diferença, (mas faz um bocadinho).

Gostava que não me apetecesse estar completamente sozinha… só para estar contigo.
Gostava era de nascer outra vez e não saber nada do que sei hoje, nunca!
Gostava de ter apenas o objectivo simples, de toda a gente, e de não ter de seguir com o olhar, uma borboleta branca desde há muito tempo, que nem sei onde me vai levar… mas é lá!

E gostava de compreender tudo aquilo que sei.
E de não saber tudo aquilo que compreendo.
Talvez, de não ser sempre tão sinceramente compreensiva…
Mas gosto de ser eu, e no fundo, gosto de ser assim porque fui eu que me construi…
Só que ás vezes… gostava de ser abraçada com ternura… e poder permanecer assim…