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26/11/11

Dores

Por vezes fico assim comigo
Fixo um ponto branco e mantenho
Baixo os olhos
São demasiadas as coisas que sinto
E foram demais as que já não minto

Quando tentei perder-te e perder-me
Caí sem rede na dolorosa e doce sensação
Dos amores que foram e ficaram no caminho
Tentando sobreviver, tentando viver comigo
Chorando e amando saudosa
Quem se afasta ficando e ousando
Quem fica tentando e tentando
E tudo fazendo e tudo arriscando
Mas nota-se no olhar das tuas mãos
Que já não és o mesmo
E nunca mais me olhaste como me sentias
E transparece a dor que existe em ti
E em mim transparece tudo porque nada tenho

A vida caiu-me em cima e eu deitada
Mais uma vez na vida a aceitei
A vida que me deu pouco ou mesmo nada
Oferece-me agora os teus olhos
Para eu ver
Como se ama
Como se sofre
Como se perde devagar
Como se ama tanto
E a perda é como uma sombra que segue
Calada fria quieta
A espera de se instalar

E pudesse eu aproximar-me do corrimão da vida e saltar
Deus meu com que ingratidão vivo dentro

A cada despedida morro
A cada alvorada só volto a morrer

Mas quem não tem vida não tem corrimão
Não tem pernas p saltar nem tem opção
E quem não vive não pode morrer
E o que eu dava, ó Deus o que eu dava
Para hoje ser outra, ser a tua mulher


14/11/11

Desumanamente te Amo

Aninhada em mim, me enrolo
em câmara lenta, o mundo passa
não faço parte do mundo, e choro
e metade de mim está morta, está baça


Os meus ouvidos não ouvem
o que as pessoas têm para me dizer
Vejo-as mexer os lábios, falam comigo
Olho-as desinteressada e não quero saber


Enquanto não cruzas a esquina
Enquanto o teu carro não chegar
Aninhada em mim, me enrolo
e não vivo, não respiro, não choro
não como, não durmo, não oro
não sinto, não oiço, não vejo
cada hora que passa é um ano
em que sinto apenas, no peito
que Desumanamente te Amo!


28/10/11

Uma verdade qualquer


Não bastaria chorar a alma toda

nem calar a dor que existe em mim

Não poderia viver assim fechada

Nem poderia amar quem eu perdi


Quando me afastei sem ser verdade

Quando me calei para não mentir

foi quando dei largas à saudade

e que ofereci a dor ao meu sentir


Trago nas costas a cruz das tuas mãos

a acariciar a alma que me dói

Trago no peito um parco coração

que apenas sabe a verdade do que foi

A mentira da minha mão na tua mão

A dureza de sermos um num corpo a dois



Quando a ternura se enrolou no meu pescoço

nunca esperei que pudesse ser saudade

Quando a loucura se instalou à minha beira

nunca pensei que pudesse ser verdade



Quando a verdade é parte da mentira

quando o Amor é dor e solidão

Cai-nos um manto escuro sobre a vida

E tiram-nos o tapete do perdão


Não bastaria arrancar estes meus olhos

Para perder a ânsia de te ver

mesmo sem eles sei ver que esta mentira

é igual a uma verdade qualquer...








22/09/11

(n sei)

Abri o peito à ternura de te reconhecer
Vivi a vida como quem não quer morrer
Chamei ás pedras nomes e falei-lhes de ti
Elas não disseram nada, e eu nada previ

Abri o peito à vontade de te amar
Abri as pernas e deixei-me penetrar
Abri a boca e abri o coração
Abri os braços e abri uma excepção

Fechei os olhos ao que não queria ver
Fechei a porta ao meu direito de ser
Tranquei as palavras todas que te podia oferecer
Rasguei os vestidos todos
Larguei a esperança no chão
Pisei os direitos dos outros
Esmaguei o que tinha sonhado
Parti o meu coração

Colei pedaços de céu
A uns pedaços de mar
Voltei as costas a vida
E continuei por ali
A errar, a andar, a sonhar

Colei a tua imagem
A uma imagem de deus
Para ver se me esquecia
Que és homem e que es humano
Que és belo e me fazes bem
Que não te posso tocar
Não por seres demónio ou santo
Mas seres tão simplesmente
Toda a razão do meu pranto


Abri o peito de novo
Vazia de qualquer dor
Chorei toda a água que tinha
Sequei todo o meu amor

Lancei-me à agua do mar
Lancei-me ao rio e voltei
Andei à chuva, molhei-me
E nem sequer sei o que sei

Abri um capitulo na vida
Escrevi-o as cores e sorri
Fiz um livro, fui feliz
Mas a vida
Sempre a dizer-me…
Não vas por aí….

Tenho medo do futuro
Tenho saudades de mim
Queria poder ter tudo
Queria dar-te a minha mão
Ser fiel a quem eu sou
Não viver na solidão




21/09/11

Quantas vezes


Quantas vezes não soubeste que decisão tomar na tua vida e te sentaste debaixo de uma árvore apenas a olhar e a sentir? 

Quantas vezes deixaste passar demasiado tempo no tempo que tinhas para decidir?

Quantas vezes não disseste algo por teres algumas dúvidas disso, e quando a certeza veio, já não estava lá ninguém com quem falares? 

Quantas vezes contaste pelos dedos os dias que faltavam para um evento tão especial e que afinal nunca chegou a acontecer? 

Quantas vezes aconteceram coisas tão especiais e não estavas a espera?

Quantas vezes não soubeste o que dizer e mesmo assim não te calaste? 

E quantas vezes devias ter dito tudo e nada saiu?
... Quantas vezes mais vais esperar e deixar a vida passar!

Quantas vezes achas que vais viver?.






23/08/11

Futuro incerto

Uma semana depois de nada
aquela madrugada foi tudo.

O caminho ia-se fazendo
à medida que os pés avançavam
e cada passo punha à prova
a incerteza de não saberem bem para onde iam
A linguagem fazia-se entre a copa das árvores
e o chão onde a folha era pisada

Os taxis deixaram de ser precisos,
assim como os autocarros, o metro e todos os transportes
Porque o espaço que separa,
passou a ser uma coisa sem grande significado
O espaço deixou de ser um lugar
para ser em todo o lado.

Ela nunca mais sorriu e
nunca mais chorou da mesma maneira
E ela nunca mais viveu semelhante alvorada
Ele não sabia amar, e, no entanto não sabia ele fazer mais nada
e todos os dias, apesar de não saberem,
ele foi amado, ela foi amada.


Cruzaram-se muito antes de se conhecerem
amaram-se até muito depois de se largar
A vida juntou-se ao tempo e foi cruel

Viveram longe muitas e muitas noites,
mas nunca mais encontraram aquela madrugada

Viram uns barcos à deriva sem encontrar o norte
Viram gaivotas loucas e esfomeadas, largadas à sorte
Viram crianças e luas, viram barcos e comboios a partir
e foram os dois juntos tudo onde n se podia ir...

uma semana depois da madrugada
um mês depois de duas noites sem dormir
um ano depois de tudo o que aconteceu

ninguém sabe como estes dois vão viver juntos 
sem nunca mais se encontrar
ninguém sabe se se amaram realmente
se foi só vontade de Amar

mas nos passos incertos que os separa e aproxima
nos dias que anoitece sem razão
quando virem uma sombra fugidia
são eles... são eles que se encontram e dão as mãos.




13/08/11

Discussões com o divino



Deus falou comigo hoje
Nunca me tinha antes dado atenção
E hoje veio falar comigo, e disse
- Não venho como teu irmão!

Veio dizer-me o que eu já sabia
Que nunca esteve lá para mim.
Veio dizer-me que a minha vida
Não vai terminar fácil assim

Pus-me em bicos de pés para me fazer maior
Cerrei os punhos para não me desfazer
Olhei nos olhos aquele que me pôs cá
E lá no fundo senti-o tremer

Que queres tu? perguntei devagar
Fixando a sombra que me quer ver mal
Vieste aqui para ver-me penar
Podes voltar para o teu lamaçal

Então Deus falou comigo e disse
Se Eu sou Tu e Tu és Eu…
Se tudo o que existe, vem de nós
Porque me culpas dessa vida triste
Porque me acusas, sem saber se existe
A escolha tua ou a vontade minha
Que muda tudo e que tudo altera
Que faz nascer sempre a primavera
Que faz morrer todo o Homem bom

Porque me dizes que não faço nada
Quando quem caminha por essa estrada
És tu e és quem decide, se quer a noite ou a alvorada
Se quer viver em pé ou deitada
Se quer amar ou ser amada
E tu que escolhes arrogante
Sempre o caminho errante
Queixas-te a quem te ouvir
Sem pensar que também Deus
Só abre a porta a quem quer sair!



(premonições ou medos??)


Tu foste a saudade que vi partir
Num dia de chuva num dia qualquer
Tu foste a mentira que me faz sorrir
Por um dia fui tua e fui mulher

Tu és a tristeza que em mim ficou
O dia de chuva que não vê o sol
O dia mais triste a agua mais fria
A boca mais quente que já conheci
E a mais selvagem que já provei

O corpo mais firme que tive no meu
Também dos melhores que já abracei
Uma mão amiga que me apoiou
Um sorriso lindo que me aconteceu

Mas vi-te partir num dia de chuva
E vi-me ficar para trás a chorar
Por não te ter visto mais na minha rua
Por na tua vida não ter lugar
E sei que não vou pedir nada
E sei que nada vais dar

Mas sei que não devo estar triste meu bom amigo
Sei bem que é assim que tem de ser
E tenho que guardar esta pena
De te ter perdido por te conhecer

Tu foste a saudade que ficou em mim
O belo momento que não vou esquecer
Tu foste a verdade que me pôs assim
Entraste inteiro dentro de mim
Colaste os pedaços do meu coração
Chamaste-me amiga, chamaste-me irmão
Chamei-te poema, dor e paixão

Descansei no teu corpo
Naveguei-te na alma
E ao entrares em mim trouxeste-me a calma
E deste-me esperança de voltar a tentar
Sem doer, sem pedir, sem magoar
Sei bem que não fui amada
Talvez e apenas um desejo no mar
De qualquer maneira obrigada
Ao meu estranho modo toda a vida eu vou-te amar

E nunca se amará ninguém melhor
Eu sem nunca saber o que tu sentes
E sequer perguntar á tua boca calada
Sem que eu do meu nunca te diga nada!





08/08/11

Vidas Perdidas - por Miguel Esteves Cardoso (o Grande)


sexta feira13 



Foi deus que se enganou e abriu uma porta
que afinal era uma janela, que afinal não era nada
Foi a deusa que brincou, com o seu sentido de humor
Que pegou naquela  letra e a transformou
Um doce rumor num amor, que depois se desligou

Tinha moedas de algodão e cafés de chocolate
Tinha lençóis de flanela, que afinal eram de linho
E caraçóis em cabelos, todos feitos de carinho
Tinha mãos que não se davam, tinha lagos de suor
A saber a lábrimas, a saber a tudo menos a amor
E no entanto

Havia memórias futuras que não serviam para nada
porque o passado de um, era o futuro do outro
E uma história p’ra trás com um vazio quase rente
Das   vidas que se cruzam mas que andam sempre em frente
e lábios doces e duros que nunca disseram tudo
Porque a palavra nunca podia ser dita
Nem podia ser escrita, nem pensada mas também não podia ser rasgada
Foi deus que se enganou, foi a deusa que brincou
Foi a saudade que fica num corpo que parecem dois
Foi verdade, foi mentira, foi o que não pode ser
Como a alegria que vem antes do acto e da dor
Da palavra esmigalhada que só podia ser Amor

02/08/11


Ver as coisas de modo diferente daquilo que vejo, ou antevejo!
Ás vezes gostava que não fosse assim.
Adormecer simplesmente quando chegasse à cama e não estar a visualizar todos os contornos das pessoas que me são queridas.
Não saber mais nada a não ser o que aprendi, o que me foi ensinado e o presente.
Não saber mais nada…
Não querer mais nada…
Ás vezes gostava de ser humana e preocupar-me com coisas pequeninas.
Gostava de não conhecer anjos do céu... não conhecer o céu
Não conhecer os demónios, nem o inferno. Gostava de ver só aquilo que se vê, e não ter de estar constantemente a disfarçar e lutar com o que sinto, em mim.
Gostava também de ter nascido sem asas… e de não sabe voar.
Não ter a cabeça tão cheia de estrelas e de mar.
Gostava de não ter de guardar todas as conchas e todas as pedras que já foram eu e que me pertencem.

As vezes gostava de ser normal, de ser humana. De não ouvir…
Gostava de não saber avaliar os sinais… não os ver sequer.
Gostava de ter só amigos simples.
Gostava de não sentir falta do Grande Amor que me está destinado, ou então de cada vez que nos cruzássemos (eu e o grande Amor) não estivéssemos sempre tão distantemente entrelaçados…

Gostava de não ter certezas.
Ou então gostava de as poder utilizar…
De vez em quando gostava de ser abraçada com ternura.
Ter um Amigo perto todos os dias. Partilhar…

Gostava de não ser só carne… ou só intelecto.
Gostava de ser apreciada como me aprecio.
Vista como eu me vejo.
Gostava que o amor estivesse ao meu alcance cada vez que me deito… contigo.
Ou então gostava que isso não me fizesse diferença, (mas faz um bocadinho).

Gostava que não me apetecesse estar completamente sozinha… só para estar contigo.
Gostava era de nascer outra vez e não saber nada do que sei hoje, nunca!
Gostava de ter apenas o objectivo simples, de toda a gente, e de não ter de seguir com o olhar, uma borboleta branca desde há muito tempo, que nem sei onde me vai levar… mas é lá!

E gostava de compreender tudo aquilo que sei.
E de não saber tudo aquilo que compreendo.
Talvez, de não ser sempre tão sinceramente compreensiva…
Mas gosto de ser eu, e no fundo, gosto de ser assim porque fui eu que me construi…
Só que ás vezes… gostava de ser abraçada com ternura… e poder permanecer assim…

10/07/11



A cidade amanheceu cheia de luz e com cheiro a caldo verde e a passeios de mãos dada. 
As paragens de autocarro são locais tranquilos quando amanhece a cidade. 
Os bares a fechar, os cafés a abrir, o cheiro a bolos e a rua lavada. 
O cheiro do rio que acompanha a cidade que tem a cor doce de quem nunca se amou nem nunca se tinha amado antes… 
e os dois de mãos dadas esperam um autocarro para lado nenhum, 
e esperam que o táxi não chegue ou apenas esperam, sem motivo aparente, que a vida se esqueça que os dois existem e os deixe ficar ali, apenas a permanecer.

A cidade amanheceu cheia de luz e cheia dos dois, pela primeira vez.

Há cheiro a croissants e torradas com manteiga no ar. 
Há o sabor amargo na boca de um sonho que não pode ser, nem pode acabar.
Há um não ter de ser ou de parecer. 
Há uma vontade louca de ficar, uma musica clássica no ar… 

...e fechado o circulo o carro pára onde há muito tempo se cruzaram mas nunca se encontraram. 
O carro pára e a vida continua. 
A manhã deixou de amanhecer, tu deixaste de ser meu… eu deixei de ser tua.

Agora há uma paragem de autocarro silenciosa à espera que os dois ali voltem; um caldo verde que já não existe, á espera de ser comido; uma musica à espera de ser dançada; uma pedra da rua à espera de ser pisada…
E talvez Lisboa nunca mais amanheça enquanto estes não se voltarem a encontrar, no desencontro de uma noite simples, ou na simplicidade de uma noite desencontrada!

Sei que vou perder-te quando a noite chegar
E sei que por mais que ame, nunca mais eu vou Amar.


02/05/11

Faz de mim todas as mulheres




Irmã, Amante, Amiga
O que quiseres

Sou nuvem, sou estrela perdida
Faz de mim todas as mulheres!

Gostei! Gostei do teu sorriso
E de tudo o que não tiveste tempo de dizer.
Esse teu jeito, esse teu improviso,
Essas tuas mãos esse teu saber…

Não te peço mais do que me dás,
Dou-me só até onde quiseres.
Sou o sol nascente e não sou nada,
Faz de mim todas as mulheres!

E se me deres a mão, eu dou!
Esse me chamares, eu vou!
E se não me quiseres, avisa-me
Com um desses teus frios olhares

Irmã, amante, amiga
O que quiseres

Deita-me na tua cama, beija-me
Faz de mim todas as mulheres!

Gostei das nossas conversas
E do que ficou por dizer.
Gostei da tua mão na minha
Gostei de te dar prazer!

Deita-me de costas, abraça-me forte
Mostra-me as estrelas que trazes na alma.
Investe sobre mim, indica-me o Norte,
Olha-me directo, oferece-me a calma…

Faz de mim Irmã, Amante ou Amiga
E conta-me as histórias que quiseres
(eu dou-te o que sentir que precisas)
Faz de mim todas as mulheres!

21/03/11

Apelo Desesperado

Perdi o Amor
E vou por um anúncio no jornal
Para ver se o posso encontrar
Porque eu perdi…
Perdi talvez a coragem para amar

Olhem que eu perdi o Amor e não sei quando
Talvez estivesse num café
E ao poisá-lo perto de um cinzeiro
O tivesse, sem querer, deixado lá

E se estiverem a fumar
E virem o meu amor perto das cinzas
Se virem no cinzeiro o meu Amor
Ai avisem-me, avisem-me por favor

Ou então foi quando eu fui ontem à praia
Que o deixei cair à beira mar
Talvez as ondas o tenham levado
E agora os peixes sabem amar

Ai mas se o virem numa onda, ou numa concha
Ou se alguém pescar o meu Amor
Antes de o venderem no mercado do peixe
Ai avisem-me, avisem-me por favor

Perdi o Amor e não consigo saber onde
Nem em que dia foi que o perdi
Talvez o tenha deixado lá em casa
E sem o ver, ele esteja mesmo ao pé de mim

Pior que isso foi se o larguei na estrada
E lhe passei por cima com o carro
Ai, e se eu matei o meu Amor, como é que eu faço?
Alguém me diz aonde o posso achar?
Até lá o melhor é ficar calada

Que chatice, agora não tenho Amor para dar

Se alguém o vir numa gaveta dos papeis
Ou na caixinha dos anéis
Ou pendurado num cabide, o meu Amor
Eu até dou uma recompensa
Mas avisem-me, ai avisem-me por favor

Porque ninguém vive, nem come, nem respira
Porque ninguém pode amar sem ter Amor!




03/03/11

Um dia vou Voar

Mulher pequenina
porque te ausentas tu?

Recordas um passado que já não é o teu
Choras por sombras que não voltarão mais
Voas por campos que não vais alcançar

'Ó pequena mulher, contenta-te!
Contenta-te que o teu destino é outro
O que sonhaste para ti não é verdade
e não é verdade que não o soubesses'

Tu sabes pequena, tu sabes
Desde que o espelho te mostrou a tua imagem
e tu choraste por causa de um cavalo
Sofrer é a causa porque vives
Contenta-te mulher tu és só isso
Contempla a tua queda vagarosa

És nova
Ainda tens muito que penar
Porque sorris minha mulher pequenina?
Porque dizes:
" Um dia, meu Amor, eu vou Voar!"


14/02/11

A ti Pat

A ti que desenhas flores
a ti que colhes amores
a ti que não pedes nada
a ti que nada te dão

Não esperes nada da vida
não mates teu coração
liberta-te dessa ferida
é já tempo de voares
é já tempo de amares

Solta esse fio que te prende
abre os braços e sorri
pega no homem que amas
sai com ele por aí

Vão os dois estrada fora
quero ver-vos abraçados
amando-se nas esquinas
amando-se em todos os lados

[ a uma grande Amiga - há muito, muito tempo ]


10/02/11

Um Poeta




Quando se escreve muito
As palavras deixam de ter o seu significado
Cada palavra é o gesto
Que nunca se chega a fazer
Cada palavra é o timbre
Da música que não existe

As palavras na poesia
Pouco significado têm
E o que elas nos transmitem
É um sonho inacabado

O poeta é um filósofo
Que também pensa na vida
E não tem medo da morte
E tem sempre alguma ferida

O poeta é um filósofo
Que nunca obtém respostas
Nunca acaba a sua obra
Mas nunca lhe vira as costas

Morre sempre antes do tempo
Mesmo que morra de velho
Seu espírito é infinito
É maior que o evangelho

Não tem religião definida
Nem tem partido com cor
Presta ao amor o seu culto
E nunca diz não á dor

O poeta não é mais
Nem menos que uma pessoa
É poeta simplesmente
Só que tem uma alma boa.

08/02/11

O que nós éramos


De lágrima na mão coração triste
Recordo tudo aquilo que passou
Não sei se foi, não sei se ainda existe
Em algum lado o amor que se gerou

Com a alma triturada da saudade
Penso comigo se não terá sido em vão
Que tudo foi que acabou sem um gemido
Que terminou sem eu te pedir perdão

Com os olhos poisados neste vento
Sempre na esperança que ele me leve até ti
Mas nunca mais chega esse momento
P’ra ti eu sei, p’ra ti eu já morri

Não te vejo há mil anos e mil horas
Já não te beijo há milhões de anos luz
O que eu era amor… quem tu adoras?
O que nós éramos e como nos puseste tu

Com estas pernas cansadas para ti corro
Não estás a sós
Queiras ou não dentro de mim há qualquer coisa
Que não sou eu nem tu mas somos nós.





06/02/11

...

Neste universo quadrado onde me encontro
Cada dia a reviver o que passou
A engolir esta crua agonia
De já não saber bem quem eu sou

Neste cubículo fechado e pequenino
De onde o Sol não se sente aparecer
Recordo-te cada gesto, cada cheiro
E ando triste, sempre triste a esmorecer

As linhas do meu rosto são graves e severas
E os contornos do meu corpo permanecem
Intactos à espera do teu toque que não chega
Mãos doces como as tuas não se esquecem

Quero amar perdidamente como a outra,
E sofrer as violências da paixão
Estou louca, quero amar-te simplesmente
E quero simplesmente que me dês a mão

Mas eu sei meu doce, meu amigo
Que não te posso pedir um pensamento
Sei o quanto foste tão ferido
E que de nada vale o meu lamento

(Que julgas que p´ra mim foi um momento)

E foi um momento realmente
E podia revivê-lo toda a vida
E do lamento nascia uma familia
E da familia nasciam novos braços
E dos braços cresciam as raízes
E delas se faziam os abraços

… podia revivê-lo toda a vida
A amar-te e a fazer-te tão feliz
Mas tenho de viver nesta agonia
Sem direitos, sem alma e sem raíz




31/01/11

Poema naif

À procura de melhores dias
Anda a rola e a cotovia
De inverno farta a chuva
E pouco se vê do dia

À procura de melhores dias
Anda o vento sempre a girar
Roda p’ra cima e p’ra baixo
Roda sempre, sem parar

À procura de melhores dias
Ando eu e o meu amor
Uma ilha verde e calma
Onde não falte o calor

Os dias de ontem e hoje
Foram de chuva e de vento
Não vi rola ou cotovia
Que me trouxessem bom tempo

Sinto os dias de amanhã
A chegarem devagar
Vejo sol envergonhado
Vejo a vida a querer vingar

Á procura de melhores dias
Andas tu e ando eu
Do que hoje é uma perda
Amanhã algo nasceu


Hoje não chove

Hoje não chove, mas é como se chovesse
Dentro de mim a água do céu perdura
As águas que tenho dentro
Não são sequer de ventura

São tristes as águas que tenho
Porque hoje também não chove
Eu bem danço, bem me empenho
Mas a chuva não se comove

Já fez vento e trovoada
Eu de medo, já tremi
Mas sou mulher acabada
E por ti assim vivi

Hoje não chove
E isso faz doer mais
Hoje não se passa nada
Não há um barco no cais

Os barcos foram para o mar
(hoje não chove)
Eu continuo aqui sem estar
(hoje não chove)
Tu não vens se eu te chamar
(hoje não chove)
Ninguem hoje pode amar
(hoje não chove)

Eu não paro de chorar e hoje não chove
Eu danço, danço, danço mas a chuva não se comove.




29/01/11

O que eu sinto por ti tem muitas coisas dentro. Tem carrinhos de esferas antigos e tem bonecas de trapo. Tem cartas, muitas cartas trocadas no tempo em que ainda existiam cartas de amor, quando esse ainda tinha uma breve existência. Tem carrinhos de linhas que se usavam para remendar a roupa que rompia por estar demasiado gasta. Tem palavras, palavras que se tornaram num vago som distante, palavras meio desfocadas, como quem acabou de comprar uma máquina fotográfica que ainda não sabe usar. O que sintopor ti tem o peso do tempo dentro, um peso que quanto mais tempo passa mais leve fica. Tem o amor mentolado da adolescência, o amor puro de quem ainda não percebeu que dói e que demora. Um amor simples a saber a arroz branco. Tem os passeios ao fim da tarde em ruas que já não sei o nome. Ruas que já só sobrevivem na minha imaginação. Ruas de cidade deserta ao fim de semana, ruas de aldeia que já não existe a não ser no imaginário de algumas crianças que cresceram duramente devagar. Tem os vidros embaciados de um carro em frente ao mar. Tem horas de espera elásticas. Tem horas de esperas sem fim, eu à espera de ti e tu à espera de mim. Tem o tempo perdido de quem espera calado, sem marcar encontro. Tem a ilha de sangue num lençol branco a cheirar a lavado e o espanto pela descoberta de mim. Tem calor de lareira, tem frio de neve acabada de cair. Tem o primeiro desgosto que se repete em todos os que se seguiram. Tem as histórias de um passado que não sei se aconteceu, se sonhei. Tem os amores que vivi antes de ti, e todos os que pensei viver a seguir. Tem as praias todas porque passei, as marés baixas e as marés altas, tem todas as ondas que se formaram e que não foram apanhadas, e, tem as marés vivas de Setembro que vêm até aqui e me molham os pés. Tem as mulheres que foram tuas e agora me povoam minúsculas num desconcerto de muitas vozes em teu redor a lembrar uma culpa antiga que eu nunca conheci. Tem estradas e casas e cheiros, um ribeiro ali ao fundo, um cavalo. Casinhas de aldeia e almoços em familia, tem uma familia que não é a minha mas que por breves instantes me alimentou a alma. Tem uma janela a dar para os telhados, uma noite de fogo de artifício, uma festa popular há muitos anos num castelo. Quando os castelos já nem existiam. Tem sono e fome e sede, uma capela perdida num monte, um campo de futebol de terra, vazio. E tem o silêncio e o som, tem árvores e plantas, a lua a nascer num céu ainda claro e a dor de ser eu, agora, aqui, com tanta coisa dentro…




24/01/11

Esquecer
Esquecer como se nunca tivesse acontecido
Deixar as dores doer à outra gente
Esquecer a noite que não devia ter perdido

Fica
Grito eu a mim própria
Num desejo vão de não ter de partir
Vai
Grita a vida má e sóbria
Vai que não tens tempo para sorrir

Chorar não choro
Esquecer é o importante
Esquecer a noite, os dias, os teus olhos
Esquecer aquele que quero lembrar tanto

Partir
De costas voltadas ao sorrir
Partir de lágrima na mão, coração triste
Deixar p’ra trás o que podia ter sido
Talvez não fosse nada, meu amor
Talvez eu nunca te tenha conhecido






Amar











Um corpo
Fechado
Sozinho
Esmagado
Eu
Sem portas
Sem risos
Sem nada
Chegas
Arrasas
Penetras
E esmagas
Eu
Sorrio
Há dias
Há esperanças
Nós
Sozinhos
O mundo
O mar
Uma cama
Um fruto
Um filho
amar

15/01/11

Desejo












Desejo uma morte calma
Desejo uma outra vida
Desejo ser querida de amigos
Querida para ti
E desejo não estar perdida

Desejo uma noite longa
Desejo um sorriso bom
Um olhar teu apenas
Desejo aninhar-me sozinha
Passear no meu infinito
Desejo-te aqui, agora
E desejo dar um grito

Um grito em silencio
Que termine com a solidão
Um grito forte e seguro
E desejo, ás vezes, que me des a mão

Desejo olhar-me ao espelho
E ver algo de melhor
E tenho um desejo tamanho
De te conhecer de cor
De morder a tua alma
De lamber o teu amor
De beijar a tua boca
De curar a minha dor

Desejo

14/01/11

Eles não amam como nós





 Eles não amam como nós
A vaguear sem rumo certo
Eles vêm o céu de longe
Nós sentimos o céu tão perto

Eles não amam como nós
Com a total entrega da vida
A esse a que chamamos nosso
E que ainda de nós duvida

Eles não amam como nós
Com todos os poros do corpo
Com o pensamento preso
Com saudade dolorida
Com nó cego na garganta
De quem só sofre na vida

Eles não amam como nós
Não amam não
Com a alma de uma santa
E o coração de um leão

Uma mulher quando ama
Ama com fé e verdade
Pode passar a vida toda sem o ver
Mas fica fiel à saudade
Mesmo que saiba que é certo
Que nunca mais o vai ter

Para amar puramente
Não é preciso saber ou aprender
É preciso é ser mulher!

Sensação de perda



E agora tudo me parece tão vago
Tão sem esperança que aconteça
E agora até parece que trago
Uma mão cheia de flores na cabeça

Está tudo de mim tão distante
Falo de mim de nós dois
Tenho mil problemas de instante
Não te penso, talvez, talvez depois

Afinal já descobri que o mundo
Não gira só e sempre à tua volta
Parece-me até que lá no fundo
Já me vejo a voar, que já estou solta

As palavras que um dia me disseste
Em nada mudaram o que veio a acontecer
São palavras, simplesmente que me deste
Frases feitas, para me fazer doer

Amanhã talvez te pense um pouco mais
Hoje não…
Hoje tenho mais que fazer.