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26/12/13

Presente envenenado

Ó tempo que custas passar
Ó dia que teimas em chover
devolve-me a história que eu tinha
aquela de outrora, que fiz por merecer.

De branco e de negro como tu me vês
Sem saber que sou a rainha das cores
Condenas-me como mataram Inês
chamada de Castro, rainha das dores

E Inês não sou ou seria rainha
eu sou o inimigo do presente
Que não tem futuro, se não há passado
eu sou um presente transparente

Amarras-me as mãos e cortas-me os pés
e enches-me a boca de pétalas de flor
para quem já caminhou, como eu, de lés-a-lés
só consegues parar-me em nome do Amor

Ó quimera seca por onde enveredei...
Ó fantasia oca em que acreditei...
Eu não sou futuro, eu não sou passado,
eu sou o presente envenenado!


Palavras pisadas

Era negro o dia que amanheceu
numa força inerte, trazida do antes
todas as palavras caíram no chão
e, molhadas, pisei-as para não as dizer
mas disse.
Porque aquilo que não é ouvido
é como se nunca se tivesse pronunciado
e, nesse caso, repetir não é voltar a dizer
fica apenas um redizer pela primeira vez
na esperança que as palavras não se molhem
não caiam no chão e não se pisem
as palavras pisadas não têm razão de ser
nunca foram ouvidas e não vão acontecer

Nos lençóis quentes, tantas vezes navegados
as palavras não ditas foram ouvidas, se calhar
e porque as palavras não ditas não podem ser pisadas
calámos.
Era branca a noite que entardeceu
e as palavras ditas esqueci, esqueceste
num dia diferente vivido em penumbra
era doce o vinho que do meu peito sorveste
e terno era o colo onde te embalei
tão forte esse teu braço que não me deixa sair
tão grande, meu amor, esta vontade de ficar
secámos as palavras pisadas, e em surdina
ouvi-te dizer - Não consigo ir... e pensei - talvez amar...






01/12/13

Os muros

Sempre que choro de preocupação por alguém
percebo que amo. 
Não só aquela lamechiçe feita de carinhos e ternuras, 
mas aquela coisa forte e afiada, 
que nos corta a garganta, nos estilhaça o coração,
que nos mostra de frente que não valemos nada
nos encosta à parede e nos passa por cima
e que apesar da impotência para ajudarmos
não nos impede de chorar
não nos impede de acordar
não nos impede de amar
da forma mais crua que temos p'ra dar.

Mas quando os muros, altaneiros,
são feitos por ti e para ti
engulo em seco e sinto a garganta a gelar
nada do que diga, vale a pena...
nem nada do que sou, sou tão pequena

A quem não quer ouvir, não adianta falar
ninguém obriga ninguém a amar!



24/11/13

A tua mão

A tua mão na minha, quente
É a única confirmação que preciso
E a dor que passa ao lado, rente
É talvez a vida, é talvez aviso

E ouvir as folhas debaixo dos pés
Num chão já pisado, tantas vezes
É a melodia que nos acompanha
Já lá vão dois anos e uns meses

Quando a noite fria é passada junta
Ela, num repente... aquece
Tua pele doce reconhece a minha
Entra no meu corpo... adormece

Não sei do que falam quando se referem à felicidade
É talvez um mito, a procura intensa, a mentira numa verdade
Sei que a tua mão quando encontra a minha, no meu mundo, tudo se acende
Sei que a vida é dura, que o amor é lento, que se erra e pouco se aprende

Da felicidade já ouvi falar, dizem que nos salva de um perigo
Que se esconde e espreita, mas não tenho medo... contigo.
Não sei do que falam, mas sei que quando me dás a mão de verdade
Sobe-me uma coisa, que confirma tudo, e só pode ser felicidade.




06/10/13

O melhor caminho do mundo é o que percorro contigo
Onde agora, vou andando sozinha...


Pretérito Imperfeito

Não queria ser o prémio de alguém que não jogou
Que nunca antes me amou na forma perfeita do ser
Do sempre ao nunca mais, vai um tempo imperfeito
com contornos escuros feitos de nós no peito

Vou ser o bilhete de uma lotaria que saiu
o cartão que não foi escolhido nem achado
nem vendido nem sequer rasgado
Vou ser o bilhete de que se desistiu

Vou ser um pretérito errado do que podia ter sido
Eu seria, eu teria, eu faria, eu queria
Eu sabia... eu sabia
Não serei um pretérito qualquer
Como qualquer mulher
Que viveu a vida e a viu passar

não

Eu serei a possibilidade toda jogada no chão
Deitada de costas e sem coração
Abraçando a saudade do que poderia ter sido
Se não fosse quem sou, se não fosse perdido
O bilhete com prémio que ninguém mais quis
A planta arrancada antes de criar raiz
A criança abortada que nasceu infeliz
Um pretérito inteiro só à espera de Ser
Imperfeito e sozinho mas cheio de razão
Um prémio jogado no lixo, pisado no chão.

Há um olhar que baixa quando não se sabe nada
Há um corpo que derrete dentro de toda a dor
De que serve um bilhete premiado...
Se não há vencedor?








17/09/13

As palavras todas

Eu quero as tuas palavras todas.
Não deixes nada por dizer ou por fazer
Nenhum sítio onde ir, nem nada por acontecer.

Quero as tuas palavras todas logo pela manhã

Ainda na cama quente, a respirar devagar
Recorda-las docemente, quero palavras p'ra lembrar.

Eu quero todas as palavras que tens para me dizer.

Para me deitar com elas, nesta cama sumarenta
Tenta dizê-las baixinho, meu coração aguenta.

Diz-me coisas, novidades

Diz-me mentiras, verdades
Diz as cores todas que sabes
E o alfabeto ao contrário.

Fala de Reis e de gentes

E do que te faz feliz
Fala-me do mundo inteiro
Diz coisas, quando sorris

Diz-me essas palavras todas

Não te cales, não te acanhes
Não tenhas medo e sente.
Chora-as baixinho comigo
Diz-mas todas docemente.

Deita fora essas palavras

Quero-as todas, só para mim
Para quando te calares
Eu saber, seguramente
Que é o fim...



15/09/13

O peso do Tempo

O peso do tempo só se sente quando um novo tempo surge
e de repente, o tempo urge e de repente o amor é breve
e porque é cego, o amor, não entende
que é de dor que se alimenta e escorrega
como quem sobe uma serra com vontade de a descer.

E é assim que o novo tempo ama o gasto amor, que vendado não percebe
que o amado não é mais do que uma pena, que vista do lado de cá
parece algo bom que surge, algo lento, forte e profundo
sem saber que do outro lado, o que ele vê é um mundo
que pode ter sido belo, um dia, num tempo, em que há muito tempo
os relógios davam horas ao amor que se fazia.

Mas hoje tudo mudou
O que antes era jovem anoitece devagar,
amortece cada queda com a ternura de um olhar
sabendo que cada beijo não é perdido, mas ganho
entendendo no silêncio do recente novo amor,a leveza tão pesada
da subtil despedida ,que calada castra rente aquele que cansado, sente
o amor, que como o tempo, nos corre entre os dedos longos
nos corre na fantasia.

Rasga veias, abre crateras, formando um quadro de escombros
Onde o velho amor se deita sabendo que vai morrer.
Ninguém entende porque sorri e porque fica parado
num quadro quente e quieto onde o branco fica preto
e onde o tempo irrequieto não abranda nem perdoa.

Porque se deixa trespassar por esse novo amor inteiro
que não passa de uma brisa ou de um tiro de morteiro?
Que não abre o compromisso nem sequer lhe fecha a porta,
fazendo do cheiro a cama
a cama que nos suporta.

Porque é que não se desvia da dor que sabe que vem?
Porque é que avança tão firme junto à berma do penhasco?
E porque é que sobe à árvore sabendo que vai cair?

É que há uma coisa estranha que é mais forte do que o medo,
é uma esperança tamanha e uma dúvida do tempo,
um baque, que parece um batimento
porque o gasto amor já sabe, que pior que morrer por desprezo ou desamor
é penar eternamente pelo que não se tentou
é morrer em silêncio inerte, de arrependimento
E é melhor morrer de amor, do que quem nunca amou.

Venha o tempo venha o espaço!
Venha a noite acusar-me de ser vã!
Vou amar eternamente...
Nem que seja só até amanhã!















03/09/13

Celebrar o amor
é Amar

Quando um anjo tira tempo
para te reconhecer
para te despir e depois
para te lamber
Abraça-o.

Quando um anjo vem a casa sem avisar
Beija-o e deixa-o sentir
faz com que te percorra inteira
E no final abre a porta
E deixa-o partir

Quando um anjo te ama
Ele vai voltar
Sussurra palavras ao vento
E lambe... Lambe o ar.

Celebrar o amor
é Amar




Gota a gota

É ás gotas que me sustento
gota a gota me alimento
A sede não esgota, a palavra não vem
A faca não corta, a saia não roda
Não estando cá tu
Não está cá ninguém

E gota a gota mato a minha sede
Como um pulsar lento, do coração que não morre
Como olhar de frente, um olhar que não sobe
E a sede não passa, não abranda a fome
A porta não abre, a nódoa não sai
Não há um caminho por onde se vai

Vai vir a saudade, vai passar o verão
Vai gelar o dia no meu coração
Vai faltar a água, p'ra a gota cair
Vou fechar a boca
Vais parar de vir

É então às gotas que eu me sustento
Ás saudades lentas, que vêm e vão
Ao cheiro dos olhos, ao sabor da mão
À memória leve de ser tua, um dia
Gota a gota fresca, na boca sadia

E agora seca do que te dizer
Fecho os olhos d' água, p'ra gota morrer
Deixo de ter gotas para me entreter
Respeito os traços que fazes no chão
Escolhes o caminho fácil do esquecer
Toma, leva e espreme o meu coração

gota a gota, fá-lo padecer...





Ouvindo. Ouvir.



28/08/13

Percebi há muito tempo que é dentro que estamos 
Mas quando nos perdemos é longe que nos encontramos.

27/08/13

Tudo é para rasgar

A dor é uma coisa para ser sentida
Para ser chorada e reencontrada
Uma coisa para ser calada, para ser falada
Para ser rasgada e para ser amada!

O amor é um sentido, para ser lambido
Para ser perdido e ser encontrado
P'ra ser repetido e repetido e repetido
Para ser fodido, para ser rasgado!

A alma é o que temos dentro, é para ser mostrada
Para ser esfaqueada, para ser amada
Para ser o todo que temos para dar
E a alma também é para rasgar!

O corpo é o que temos fora, o que nos transporta
Serve para abrir caminho ou p'ra fechar a porta
Para ser nascido, vivido, enterrado
Todo o corpo é para ser rasgado!

A saudade é o que fica quando não há mais nada
Depois da colheita feita, depois da terra lavrada
A saudade cheira a cinzas e cheira a relva molhada
Cheira a papeis antigos, cheira a vela apagada
A saudade é um rasgo... que não serve para nada...





25/08/13

As memórias de nós

As memórias de nós
Vão ser colocadas numa caixa verde escura
Enviadas para parte incerta do universo
E lá vão permanecer intactas, enquanto a vida dura

Há um sítio onde as memórias extraordinárias são guardadas
Um lugar silencioso, calmo e cruel
Onde ninguém pode ir, de onde ninguém sai
Onde a vida sabe a dor, sabe a mar e sabe a mel

E as memórias de nós, é para lá que elas vão
Cada uma estará colada a um som tão especial
Quando a dor de não lembrar, esvaziar teu coração
Não há ninguém, não há dor ou doença que as apague
Não há mal que venha ao mundo pior do que não lembrar
Não há vida para a frente, não há vida para trás
Não há nada que remende o bem que a vida nos faz

As memórias de nós 
Estão guardadas numa caixa verde mar
Apoiadas numa onda, suspensas no Universo
Sem eu nunca me esquecer, que nunca me vais lembrar











24/08/13

Simplesmente

Simplesmente Amo-te

Simplesmente Amas-me

Perante isso, as vicissitudes da vida são nada
A distância é um risco, entre um ponto e outro
Um risco que se percorre silenciosamente
Onde a tua pele da minha, não é separada

Simplesmente Amas-me

Simplesmente Amo-te








19/08/13

Apaixonei-me por todas as tuas falhas
Aconcheguei-te e adormeceste-me nos braços.

A minha falha foi apaixonar-me para sempre
Por todas as tuas falhas.

Aguardo suavemente que acordes e repares
Que sou, hoje, uma das tuas falhas.

17/08/13

Quando pensava que nunca mais te ia respirar
Inalo-te!
Ofereces-me palavras como se fossem flores amarelas
Aceito-as!
Aceito as tuas palavras como se fossem as minhas
reescrevo-as!

Falas como quem abraça e é no silêncio que me dizes tudo
Cala-te!
É na distância que nos incendiamos, hoje
Vem!

Trazes os bolsos cheios de pedras
Larga-as!
Trazes as costas cheias de penas
Voa-as!
Trazes as mãos cheias de escamas
Devolve-mas!

Trazes nesses olhos doces tanta ternura
Que ninguém diria que um dia me deixaste

E pensaste que eu nunca mais ia ser tua...



16/08/13

Já sei quem sou

Já sei quem sou
Fecho os olhos e acabo de me inventar
De uma caixa de música sai um som
Sou eu lá dentro

Tenho pedaços de vidro
E tenho pedaços de mar
Tenho pedaços de mim
Sem nome para lhes dar

Tenho memórias de um Eu
Que dança tão devagar
Tenho estas mãos nos bolsos
Sem nada para entregar

Já sei quem sou
Sou a lava que arrefece
Depois da grande explosão
Sou língua que lambe o mundo
Sou gente sem coração


14/08/13

Não quero a liberdade

Podia amar-te um milhão de vezes
Como se todos os dias fossem a primeira vez.
E podia deixar-te um milhão de vezes
E dizer-te, novamente, Nunca mais.

É no limbo que me encontro
Onde me perco.
É no teu silêncio, que me detesto.

Podia mudar a mobília de sítio...
E fingir que nunca fizeste parte desta casa.
Podia libertar os pássaros todos que me habitam
E nunca mais dormir com almofadas

É no voo de cada pássaro que me enterro
E em cada enterro, me liberto
E em cada liberdade me perco de novo

Porque cada liberdade é o teu silêncio
E eu, não quero a liberdade...




03/08/13

Olhar

A musica tocava e os teus olhos ainda não tinham chegado
E a noite desenrolava-se porque não tinha mais nada para fazer
O dia tinha passado, leve, lento, como outro dia qualquer
E toda a gente se movia como se nada fosse acontecer

Vozes, pratos, risos, copos e de repente, a sensação...
Estranhei e não liguei, porque era a sensação do que não pode ser
Mas os meus olhos, teimosos, foram procurar os teus
E os teus olhos já lá estavam e encontraram os meus

A musica tocava e não compreedemos o que se passou
Quando por momentos, a musica parou e o olhar se encontrou
Num silêncio fundo, onde o tempo não pode existir
Mas a vida pára e por segundos não se pode fugir

Fomos apenas duas almas que se encontraram num olhar
Talvez eu tenha sorrido ou talvez não
Talvez o tempo tenha ficado ali parado
À espera de um qualquer dia de verão

A musica continuou e nunca mais se pensou
Naquele olhar inquieto cheio de palavras p’ra dizer
Reencontrámo-nos ali, como se nunca nos tivéssemos conhecido
E toda a gente se movia como se nada tivesse acontecido

Talvez se tenham encontrado mais olhares assim...
Num baile de musicas trocadas como se fossem olhares
Num olhar onde tudo fica por compreender

E não fica nada por dizer...





Ler a ouvir: http://www.youtube.com/watch?v=5j1nMp1kHPg&feature=share&list=FLQ8wkv1Y9EpuDvvcZVcpx1Q

24/07/13

Anahata



De novo te amo
Como nunca deixei de te querer
De novo me queres
Como nunca deixaste de me amar
E a pele arrepia percebendo que o tempo já passou
Que o vento acalmou, que a asa voltou, que a água molhou
2º 3º
Que o silencio dos dias não foi sem razão
Foi o tempo e o espaço, foi o norte e o sul
E foi a boca calada retendo a tesão


O Abraço enrola
Este corpo já quente
O olhar asfixia
Toda a forma de Ser
Desfolhas-me inteira, como seu fosse um livro
E a cada página te tornas mais meu
5º 6º
Entrego o meu corpo, entregas-me o teu
Mais livres chegamos à forma do Ter
E sinto-te dentro, moves-te, como se fosses eu


Acalmadas as hostes
Descansados os guerreiros
Poisadas as armas
Bebemos a água um do outro
e encontramos o caminho da luz e da paz
Hasteamos devagar a bandeira da verdade
Lamentando baixinho, mas sem mágoa
Aqueles que foram deixados para trás



20/07/13

Jusante

Como a água corre, eu danço
Eu danço mas a água não se comove

Contorna as pedras do caminho
Desvia, Desagua, Evapora
E a água que trago comigo
Demora, demora...

Como a água é doce
E eu tão salgada
Como o rio é longo
E tu tão distante
Como cada Não
Não serve de nada

Porque a água corre sempre p'ra jusante


12/06/13

Fui

Um dia fui
A medida de todas as tuas coisas
O padrão nunca visto numa delicia de ser
Fui o copo e fui o prato
Um deslumbre de mulher

Um dia fui metade

Em tudo o que tinhas inteiro
Fui um livro que já leste
Fui cigarro, fui cinzeiro

Outro dia fui balão

E com ar frio, eu voei
Viu-se o que não pode ser
Fui rapidez e parei

E um dia, calmamente

Fui uma tarde a chegar
Fui criança a rir contigo
Fui vontade de brincar

E um dia fui tão longe 

Que nunca mais me encontrei
Na medida dessas coisas
Fui quem parte 
Fui quem chega
Fui quem nunca mais serei


23/03/13

Dissimulada


Pensas que o manténs preso
a uma culpa que te pertence
Pensas mover-te sem ninguém a reparar
mas usar a culpa como arma é cobardia
de quem já não tem mais onde se agarrar

Chamas amor às grilhetas que hoje usas
Como quem veste de passado o que lhe agrada
finges um rasto de desgraça à tua volta
vejo-te bem e claramente dissimulada!

Por tentativas vais mentindo a cada passo
A vida roda e brevemente o saberás
desejo a ti o que desejas pra mim
deus é amor, devolve-te o que tu dás

E depois do amor, que me envolve o corpo todo
fico quieta, pois sei que de nada padeces
e agarrada à noite e a numerosas preces
rogo veemente - Deus te dê o que Mereces!


17/03/13

Esperança


Sentir a pele na pele
O respirar no respirar
O calor no calor
O Amar no Amar

Sentir a tua entrada brusca
A tua saída com vontade de ficar
A tua lingua em mim, acalenta
A vontade que tenho de me dar

Sentir o Amor que me tens
Uma espera que ao mar se lança
Que volta na onda crispada
Em forma de Amor e esperança


12/03/13

Uma noite sem ti


Uma noite sem ti
É meia noite
Uma noite contigo são
Duas noites e meia
Depois de mais cinco noites,
Tu e eu, juntos
Arde o anjo nas brasas de uma Sereia
Ardem entranhas feitas de peixe e de sal
Queima a saudade de quem tem, de uma vida, meia
Queima o silêncio que não estraga o Bem, mas faz Mal

E vem o Tempo que não nos dá horas que cheguem
Rouba meio dia só para te ver chegar
E dia e meio para poderes ficar
E em meia noite te amo como em dois dias
Sempre que nos vêm compreenderão, qualquer dia em nós
Que um dia são dois dias, e todas as noites, tardes são.

O tempo da neve, da chuva ou o tempo do Verão
E vai-se o Tempo em meias noites de espera
É tudo a mesma coisa, noite e meia ou meia noite
Noite nenhuma contigo ou sem ti, nunca é em vão

É porque existes, é porque existo eu
Que o Tempo tarda sempre, em chegar
É porque o Norte nunca mais se viu
Que a Sul a tarde chega sempre devagar

Todas as noites deito o tempo ao largo
Como algo doce e como algo amargo
Afogo o que sinto num mar inteiro de solidão
E chamo ao que sinto compreensão. Compreensão. Compreensão.

E quando finalmente, não entendo o tempo que falta
Nem sei o que isso será, se o tenho na mente ou no coração
Pego em meia noite, e rezo a vários deuses
Está na tua mão, na tua mão, está na tua mão

E penso no tempo que me falta, tantas noites meias , tanta lua alta
E compreendo que afinal o que sabia
É que tu e eu, se o tempo não nos salva
Teremos um do outro, afinal e só, solidão solidão solidão

Se uma noite sem ti é meia noite
E uma noite contigo, duas e meia são
Falta apenas uma hora neste tempo, é a hora do perdão
Compreenderão…. 




01/03/13

Conjugação

Eu
Tu
Ele
Nós
Vós
Elas

"No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus...
E o Verbo se fez carne e habitou entre nós..."
Depois do Verbo conjugado, da carne consumada, da terra queimada
O Vazio
Depois do Vazio o Sol, e o Sol era explosão, era vida e era pão
era roupa de algodão, era carne e era peixe, era o Verbo em ebulição
Depois do Vazio a Lua, e a Lua se faz mar, e o mar que tudo transporta
fez abrir aquela porta para o Verbo, enfim entrar

E entre nós era o Verbo, e entre nós era a carne, e entre nós era Deus
E entre nós se fez tarde, e a tarde se fez Lua
Quando me recebeste o Verbo, quando me recebeste nua
Quando passaste a ser meu e eu passei a ser tua
Quando a carne deu a benção e a terra renasceu
Quando o Sol nasceu à noite, e a noite amanheceu
Quando pensámos perdido todo o Verbo no Amar
Voltámos tudo ao princípio, Eu e Tu recomeçar!

Eu
Tu
Ele
Nós
Tu
Eu





27/02/13

Sexta feira foi um poema



Acordei e as asas do anjo já estavam na minha direcção
Olhei à volta porque eu ainda não sabia
e inspirei o que pensava que ía ser o dia
E aguardei a pensar, ele não vem, não!

Mas o anjo viajava pela estrada, longamente
Na tarde crua que trazia chuva e vento
E eu a carne, o vinho, o queijo, o momento
E ele as penas, a vontade e uma semente

Trazia um livro, uma pedra e tanto ardor
Abri-lhe a porta já a tarde ía escura, e pensei
Como é que um anjo pode ter tanta ternura, e ousei
Despiu-me as roupas como quem veste o Amor

Adormeci com as asas do anjo enleadas no meu ventre
Depois do sangue, do suor, do sal, do mar
Depois de ser, de ter, sentir, rasgar, amar
Adormecemos um no outro, lado a lado, docemente

Sexta feira é um poema
Sábado ressureição
Domingo culpa suprema
E o resto da semana
Onde caminha a verdade
É uma cama onde durmo
onde acordo e de repente
É um leito de saudade!


19/02/13

Tanto


Tanta areia , tanto mar
Tanto vento no olhar
Tanta onda desabrida
Tanta ansia de chegar

Tanta água, tanta chuva
Tanta areia no meu peito
Tanto sonho inacabado
Tanto coração desfeito

Tanto céu e tanta terra
Tanta terra por lavrar
Tanta gaivota no ar
Tanta ferida por sarar

Tanta alma, tanto sangue
Tanto amor neste meu mar
Tanta dor neste meu peito
Tanta forma de chorar



08/02/13

Serafim

Tanta coisa dentro, tanta hora leve, tanta solidão desenfreada
Tanta gente forte, tanta forma breve, de te amar assim desalinhada.
É a preto e branco e não é a cores, que me reconheço, junto a mim
nessa hora quente, que nunca mereço, onde o tempo passa, Serafim...

Tanto braço solto, tanta mão macia, dentro da vontade de chegar
Onde a letra morta, cabe na saudade, de não ser nunca hoje, o abraçar.
Quando a tecla seca, me lembra nos dedos, que o dia vai já chegar ao fim
Eu me engano e tusso, para não chorar, pelo meu amor, Serafim...

Num certo moinho, onde a certa mão, a minha cintura enleia...
E meus negros cabelos, molham o teu corpo, enquanto me chamas, Sereia 
Amas como se o amanhã não houvesse, e o ontem chegasse, enfim
Amo como posso, com tudo o que tenho, o meu doce irmão, Serafim...

O céu e o mar nunca se encontraram, como nesta vida, e então
Anjo e Diabo, olham-se nos olhos, beijam-se na boca, perdão.
Amanhã será o derradeiro dia, do caminho e da decisão
E toda a palavra, que não vai ser dita, tem o peso de uma canção
e Diabo e Anjo amam-se de novo, dentro desta Eu, que é - mim
e ajoelhado, me prometes tudo, anjo adorado, Serafim...

O futuro incerto, o passado fresco, a faca que tudo cortou
Serve agora o nobre pretexto de quem afinal, nunca amou
Fixas o meu ventre, na esperança da vida e descansas dentro de mim
E na incerteza de uma vida ou não, morro-te na mão, Serafim.



07/01/13


porque te amo

porque te necessito

porque te quero

porque te ressuscito

porque te adoro

porque te quero mais

porque te amo

porque és meu demais