Acordei e as asas do anjo já estavam na minha direcção
Olhei à volta porque eu ainda não sabia
e inspirei o que pensava que ía ser o dia
E aguardei a pensar, ele não vem, não!
Mas o anjo viajava pela estrada, longamente
Na tarde crua que trazia chuva e vento
E eu a carne, o vinho, o queijo, o momento
E ele as penas, a vontade e uma semente
Trazia um livro, uma pedra e tanto ardor
Abri-lhe a porta já a tarde ía escura, e pensei
Como é que um anjo pode ter tanta ternura, e ousei
Despiu-me as roupas como quem veste o Amor
Adormeci com as asas do anjo enleadas no meu ventre
Depois do sangue, do suor, do sal, do mar
Depois de ser, de ter, sentir, rasgar, amar
Adormecemos um no outro, lado a lado, docemente
Sexta feira é um poema
Sábado ressureição
Domingo culpa suprema
E o resto da semana
Onde caminha a verdade
É uma cama onde durmo
onde acordo e de repente
É um leito de saudade!