Nascemos na
paragem
Entre o que
transporta e o que é transportado
Entre a
miragem do que inicia a dor e a dor do acabado
Sentados e
juntos nascemos na margem
Nascemos na
paragem do futuro incerto
Dos minutos
contados fizemos o tempo
E o tempo
passava a nascer na paragem
Sentados e
juntos nascemos na margem
Nascemos na
paragem ou à margem de um mar
Que vai do
Ser ao saber, e vai do ter ao guardar
Barco à vela
ou autocarro que não sabe navegar
E sentados
nesta margem tudo se há-de passar
Pois sentados
na paragem logo depois de nascer
Viu-se a
lágrima no homem, viu-se o que não pode ser
Estava ele e
estava ela na paragem do saber
Viu-se
adultos já cansados acabados de nascer
E sentados
na paragem do movimento do som
Fez-se um
filme colorido que a preto e branco se viu
Escreveu-se
um livro em prosa que em poesia saiu
Dizem que se
amavam muito mas nunca ninguém sentiu
Nascemos na
paragem e lá temos de voltar
Tapa os
ouvidos ao mundo não há nada pra contar
São
migalhas, cardos, fados, prosas, tardes ao luar
Que sentados,
juntos na margem
Nós vamos
reinventar.
julho 2012